sábado, 16 de janeiro de 2010

Amigos para sempre

Usamo-los para tudo, usamo-los por tudo e por nada. Quando estamos à espera, quando estamos perdidos, quando estamos aborrecidos ou quando estamos contentes e queremos partilhar boas novidades. São despertadores e agendas. Leitores de música e computadores pessoais. Falamos com família e amigos, pagamos contas e vemos e-mails. Muito do nosso mundinho anda ali, concentrado naquele "aparelhómetro" mais pequeno que a palma da mão.

Os telemóveis chegaram há coisa de 17 anos e hoje questionamo-nos como era a vida sem eles. Gustavo Cardoso, sociólogo, chama-lhe "o ajudante privado nas tarefas do dia-a-dia" e, num estudo recente do Observatório de Comunicação (OberCom), concluiu que os jovens (principalmente as raparigas) destacam os telemóveis como o objecto sem o qual não conseguiriam viver, à frente da televisão e da Internet. Mas serão os únicos?

"Temos a roupa, os sapatos, em alguns casos relógios, mas quase sempre o telemóvel", comenta o sociólogo. Com ele "encontrámos uma forma de preencher os tempos de passagem entre espaços e alterámos o lugar da comunicação nas nossas vidas". Por outras palavras, cortámos as amarras do telefone fixo - da casa e do escritório - e passámos a comunicar telefonicamente quando nos dá jeito e vontade, seja enquanto pagamos as compras no supermercado ou no meio do trânsito.

Segundo o estudo do OberCom A Sociedade em Rede em Portugal 2008 - Apropriações do Telemóvel na Sociedade em Rede, cerca de 90 por cento dos portugueses têm telemóvel. Hoje, refere o estudo, a pergunta que se coloca já não é quem tem telemóvel, mas sim quem não tem. E aqui a resposta encaminha-nos maioritariamente para "pessoas de idade avançada, do sexo feminino, com pouca instrução e pertencentes ao grupo dos inactivos".

Evidentemente, há diferenças na forma como os grupos etários se relacionam com o telemóvel e o tipo de utilização que dele fazem. É conhecida a apetência dos jovens pelos SMS, mas a verdade é que muitos adultos se renderam a esta forma de comunicar, mais barata, e na qual as operadoras de telecomunicação tinham pouca fé quando foi lançada. Outros não dispensam a troca de e-mails ou a comodidade das comunicações de voz (que também colhe a preferência das camadas mais velhas da população). Há modalidades de comunicação para todos os gostos, idades e carteiras e contam-se pelos dedos os resistentes que, podendo tê-lo, descartam a possibilidade de usar o telemóvel.

Se nem toda a gente entrará em pânico perante um telemóvel sem saldo ou bateria, certamente são em maior número os que se sentem mais confortáveis com a ideia de contactar ou estar contactável à distância de um clique. Mas estaremos à beira da dependência?

Casos patológicos à parte, a verdade é que hoje o telemóvel "é incontornável" e se tornou um precioso instrumento de "coordenação de rotinas diárias", sejam pessoais (não é à toa que os familiares e amigos são apontados como os grandes destinatários das chamadas) ou profissionais, afirma Gustavo Cardoso. Para aqueles que vêem nesta relação tão íntima mais defeitos que virtudes, o especialista do OberCom não tem dúvidas de que o telemóvel "amplia a nossa capacidade de ser social", ou seja, aproxima-nos dos outros.

Uma realidade que, no caso dos jovens, é ainda mais evidente. E, por isso mesmo, o especialista alerta: no que toca aos mais novos, muitas vezes acusados de serem "telemoveldependentes", há que usar o bom senso e ter a sensibilidade bastante para perceber que "esta é a idade em que construímos com mais intensidade as nossas redes sociais". E nessa medida, "o telemóvel surge como um facilitador do relacionamento social".

Não há que enganar, os adolescentes vivem tudo com mais intensidade. "Nestas idades a necessidade de comunicar sobrepõe-se à etiqueta" e é por isso que o sociólogo sublinha a necessidade de "existirem regras claras" em espaços como as escolas, onde até agora tem havido "uma inabilidade de docentes e alunos" para negociar. "Fingir que as regras são conhecidas por todos ou ignorar que pode haver problemas é a melhor forma de estes acontecerem."

Até porque nisto, como na maioria das coisas, "aprende-se através da imitação". Se os pais querem crianças que não estejam permanentemente agarradas ao telemóvel como se dele dependessem as suas vidas devem dar o exemplo. "Ninguém pode conduzir e falar ao telemóvel em simultâneo sem esperar que os filhos não venham a considerar esse comportamento aceitável", avisa Gustavo Cardoso.

Regras de boa educação

Mas o sociólogo considera que, de uma forma geral, há regras de boa educação que são válidas para miúdos e graúdos e que os portugueses parecem ter "bem interiorizadas".

Não ligar em alturas impróprias - especialmente à hora das refeições - ou demasiado tardias; ser educado e cortês; desligar o telemóvel ou silenciá-lo em eventos públicos; evitar colocá-lo em cima da mesa das refeições e usar toques discretos são regras de boa educação, mas também "têm a ver com civismo, com a forma como nos relacionamos uns com os outros", destaca a especialista em assuntos de etiqueta e autora do livro Chique em todas as ocasiões, Vicky Fernandes. E para quem acha que é falta de educação manter conversas em tom demasiado alto em locais públicos, contrapõe: "Também não é bonito prestar atenção às conversas dos outros..."

Muitas vezes os telemóveis extravasam o seu carácter meramente utilitário e tornam-se objectos de afeição. A prova de que o telemóvel é mais do que um simples gadget é o facto de o personalizarmos para que fique mais à nossa imagem. Esforçamo-nos para lhe pôr um "papel de parede" que nos agrade, muitas vezes damo-nos ao trabalho (e despesa) de comprar um toque específico, enfeitamo-lo com penduricalhos ou "agasalhamo-lo" com uma bolsinha bonita.

E se um dia desaparecesse? Gustavo Cardoso não tem dúvidas: "Voltaríamos a funcionar sem ele, com ganhos e perdas, como em tudo na vida." Mas seria difícil, admite. "A questão é que encaramos sempre a história como um sucessivo patamar de melhorias. Por exemplo, poder contactar o 112 em qualquer altura é uma melhoria..."

Para os mais críticos das novas tecnologias, deixa uma nota: "Todos os estudos, em todo o mundo, demonstram que [com o uso das novas ferramentas de comunicação como o telemóvel ou as mensagens instantâneas na Internet] as pessoas não se isolam; comunicam mais, multiplicam contactos e exploram mais as suas capacidades sociais." Até porque, garante, continua a haver "uma regra de ouro nas sociedades: quando as coisas são mesmo importantes, as pessoas encontram-se face a face".

E se o estar sempre contactável é muitas vezes sinónimo de falta de privacidade, e mesmo de desconforto para quem partilha "à força" conversas alheias, não há que ter ilusões. Por mais olhares que se deitem sobre o assunto, uma coisa é clara: os telemóveis estão aí e vieram para ficar. E se nós podíamos viver sem eles? Como diz o anúncio, poder, podíamos. Mas não era a mesma coisa.


Fonte: www.publico.pt

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Salvador Dali






"Pegue-me, sou a droga; pegue-me, sou alucinógeno." Salvador Dali

"Toda a minha ambição, no plano pictórico, consiste em materializar com a fúria mais imperialista de precisão as imagens da irracionalidade concreta... que provisoriamente não são explicáveis, nem redutíveis pelos sistemas da intuição lógica, nem pelos mecanismos racionais". Salvador Dali